O homem do assobio silvou o céu. Os meus cães sentaram-se como se sentam sempre que o homem assobia. Não ficam inquietos nem uivam. Hoje resolvi responder ao homem do assobio. Não o quero ver. Não tenho fôlego de assobio para o disputar por isso cantei. Soltei a voz num tom parecido de pregão de aguadeiro, coisa parecida com o chamamento dos fiéis e que nos ficou das invasões, reminiscências nos ossos e na alma, onde o fui buscar não sei. O homem do assobio guardou o assobio. Insisti no meu vocalizo. Ele assobiou. Eu sorri e soltei a voz como quem faz uma pergunta. Ele seguiu e eu calei-me para o deixar responder. Veio a chuva devagar. Recolhi-me e os cães também. O homem do assobio assobiava alegremente.