Vivo num País de surdos. Os politicos governantes não ouvem quem os elegeu, a classe opositora não escuta as verdadeiras necessidades de quem os pode escolher como alternativa. Os meus empregadores não selecionam as pessoas certas para os lugares certos, antes preferem atribuír os lugares certos para as pessoas das suas conveniências. Quando solicito um serviço não ouvem o que peço e invariavelmente trocam ou dão-me metade do que solicito, obrigando-me a regressar para emendar o erro que não foi meu. Estou cansada. Tento atender ao pedido dos meus cães, eles prestam-se atenção. Sempre.
Não gosto de ajuntamentos mas também não aprecio a solidão no sentido do isolamento, figura que vejo erma, no alto do monte, casa afastada de todos, mais pelo medo da ignorância que pela verdade em si. É um filme que faço a sépia, não houve ainda décadas suficientes para o enegrecer e destacar nos brancos. É a minha bolha do tempo a dar permissão a mim mesma para uma bola de cristal. Suponho que se me afastar continuadamente de tudo e de todos terei que arrastar a minha casa até ao alto de um monte. Hão-de chamar-me a mulher dos cães ou dramaticamente a mulher dos lobos ou a louca dos lobos.
Desconfio de amizades instântaneas, daquelas que é só conhecer, trocar nºs de telemóvel e a partir daí não dão sossego às msg, querem-nos em todos as saídas, estão sempre em nossa casa, confidenciam tudo de todos. Não gosto. Não falo de mim. Prefiro o meu quintal. Deixo os meus cães cheirarem-nos e observo-lhes as caudas, as orelhas. A maioria nem se chega perto, têm medo de lhes passar a mão no dorso, encolhem-se, pressentem a verdade, suponho. Ou então sou eu, que lhes cheiro a superficialidade. À segunda tentativa e à minha negativa, desistem, não voltam, sei que fazem amizade com outros e contam tudo sobre a minha vida que tão bem conhecem.
Comecei a dar importância à importância. A desligar-me do que realmente não me era, do que não me é nada. Do que nada me acrescenta. Deixei de teimar por causas, que embora me sendo queridas, não são partilha com outros que não me são. Continuo a fazê-lo pelo meu ponto de vista, argumentadamente, com quem me merece o respeito e tempo de comunhão pela amizade, amor, carinho e sabedoria. Dos demais, nem insisto, deixo-os convencidos na sua sapiência e guardo-me.