Tenho uma cidade dentro de mim. Sons, cheiros, formas, relevos. Acidentes geográficos de tudo o que já vivi e me marcou, ainda que não recorde. Mas está cá, cada subida íngreme ou falta de degrau fazem o meu interior, memorável ou não [quero esquecer], passos tantos que dei, outros oferecidos na palma de uma mão-guia que entretanto cegou e outras vieram e mais se perderam.
Escrevo à velocidade do pensar e calcorreio ruas estreitas na medida que as linhas se fazem ruas. Não deixo ninguém atravessá-las porque são minhas, a única coisa de minha propriedade que alguém jamais chamará sua e por mais força que exercitem nunca conseguirão apanhar-me.
A minha cidade sou eu, não é nenhum mundo nem universo grandioso. Por vezes é apenas um lugarejo, ermo, saloio, sem atractivos. Não me importa. É uma cidade bonita e ensolarada se estou feliz. Mas também é bom quando chove, faz-me desejar o sol de novo. E acordar todos os dias e lembrar todos os dias que há gente que não tem lugar.
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