Há pessoas que não se cruzam comigo, atravessam-me, não lhes gosto. Não me fazem sangue, não me doem, lembro-as quando a aproximação se encarrega de tal. Por vezes convivo com elas, partilhamos do mesmo espaço temporal, até trocamos palavras. Não há em mim como não há [creio] nelas, recipiente que apare esses sons e cortesias de boa vivência, cai tudo ao chão, embaraçam-se palavras entre sapatos como lixo que se dispensa colado e inoportuno.
Durante muito tempo apanhei essas frases do chão, guardei-as, sempre alguma escapando-me entre dedos ou sujando-me, eu a agarrá-las e a vociferar contra hipocrisias que me colavam ao peito quando chegavam. Perdi esse hábito, talvez tenha aprendido às minhas custas que não vale a pena ter olhos se não queremos ver. Não me queríam ver, não me querem ver, continuam a trespassar-me mas eu deixei de me vergar para lhes apanhar as palavras disperdiçadas. Tão pouco valor. Tão pouco eles, tão pouco eu para eles.

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