Todas as manhãs ouço um assobio. Sei que é um homem que assobia. Nunca o vi. Gosto daquele som, para além do hábito tornou-se uma necessidade, um quase relógio que medeia o último golo no copo de leite e o bater da porta. Não imagino as minhas manhãs sem o assobio do homem que nunca vi. Não imagino conhecer o homem do assobio e no entanto, desejo-o. Se algum dia vier a encontrar o dono do assobio já não me fará falta o assobio. Nem o leite, nem ter casa com porta para fechar, nem manhãs ou outro tempo do dia. Tudo, irremediavelmente preso ao desejo tem o contraste do ouro dos tolos, deixa-se de querer, deixa-se de sonhar com o filão.
Sem comentários:
Enviar um comentário